#02 As férias, o desejo de sair e a vontade de voltar.
Sobre a saudade que a casa deixa na gente.
Viajar é maravilhoso, todo mundo já sabe. Confesso que estava ansiosa pra essa viagem acontecer. Ela, na verdade, é uma mutação de uma viagem que deveria ter acontecido em outubro de 2020 e foi cancelada em razão da pandemia. O destino não era exatamente esse, uma parte sim, uma parte não. Foi a primeira vez das minhas filhas na Europa e nós estávamos doidas pra elas verem coisas sobre as quais conversamos, como cidades bonitas e harmônicas, sobre cuidado com a história e a herança arquitetônica… Somado a isso, a gente depois de um ano de trabalho gosta de fugir um pouco, né? Às vezes pro mato pra não fazer nada, às vezes pra cidades grandes pra flanar até o pé fazer bolha.
Quem me acompanha no instagram viu minha tentativa, frustrada, diga-se de passagem, de compartilhar algumas coisas com vocês. Alguns dias deu certo, outros nem tanto. C´est la vie. A minha prioridade era curtir minha familia, levar meus olhos pra passear e poupar meus dados para usar nas estrada. Esse último, sem dúvida, foi fator determinante pro pouco compartilhamento.
Gostaria de ter compartilhado mais, pois a verdade é que, quando uma designer de interiores viaja, a cabeça continua trabalhando. Nossos olhos buscam referências o tempo todo, a gente volta com fotos e medidas de moldura, porta, piso, registro. A curiosidade entra num modo “Show da Luna”: “Como esses materiais se juntam?”, “Como esse armário abriu desse jeito?”, “Que coisa linda a cor da porta com essa madeira, vou tirar uma foto!”, “Esse granito ficou lindo com esse acabamento, deixa eu tirar uma foto.”; “Isso aqui tá escuro, uma luminária ali resolveria.”, “Por que eles cismam em só ter metade da folha de vidro no box?”e por aí vai…
Sei que você, que não é designer de interiores, viaja de modo diferente. Afinal, cada um de nós tem seus gostos, interesses e conhecimentos particulares e cada uma dessas coisas serve como uma lente para olhar o mundo.
Mas tem algo interessante que acontece com praticamente qualquer um: chega um momento que você começa a querer a sua casa. Quer a sua cama, o seu travesseiro, quer tomar banho no seu chuveiro. Quer sentar na sua poltrona, pegar o seu livro e simplesmente estar em casa.
Esse é o movimento natural quando você se afasta de casa por um tempo, começa a sentir saudade do seu espaço. A casa é como um mapinha que você tem pra se reconectar consigo mesmo, te dar tranquilidade, recarregar suas baterias.
Se isso não acontece, provavelmente você não está cuidando da sua casa como deveria. Afinal, a casa só te entrega aquilo que você entregou pra ela antes.
O conforto, o aconchego, a beleza e a identidade da sua casa são diretamente proporcionais ao que você investe nela, não apenas financeiramente, mas de tempo e cuidado.
Depois de 15 dias de viagem, ao virar a chave na minha porta, eu agradeci silenciosamente em meu coração por ter escolhido abrir mão de várias coisas pra ter minha casa como ela é hoje. Ainda caminhando pro que eu quero que ela seja, mas já tão “eu”.
Post Scriptum:
Eu havia dito que os textos sairiam semanalmente e já comecei furando 2 semanas. Mas a viagem me impediu. Além do cansaço ao final do dia, eu sou da última geração que nasceu sem internet e ainda tenho muita dificuldade de escrever textos longos no celular. Daqui pra frente, semanalmente o texto sairá.
Provavelmente ainda teremos outros textos girando ao redor da viagem, pois uma viagem sempre encontra espaço pra ecoar dentro da gente por um bom tempo e aqui posso compartilhar com vocês sem me sentir invadindo o seu dia. Afinal, se você está me lendo, é porque escolheu usar 5 minutos do seu dia pra isso. Então, obrigada.
Ahnnn… voltou a escrever, né? Muito bem! Vou tentar acompanhar…rs.
Lindo o texto. Vc tem que publicar um livro de crônicas. Tb tenho a mesma sensação do voltar para casa a cada viagem! Agradeço por aquele espaço que é a minha cara. Amo você